Pode-se dizer que mudança é uma sucessão de eventos singulares, distintos uns dos outros, e que afetam uma realidade que, sem a mudança, ela permaneceria estável. Em outras palavras, é o processo contínuo de transformações que possa ocorrer na vida de uma pessoa ou de uma comunidade. Há vários fatores que a ela estão relacionados, tais como: o ambiente onde as pessoas vivem, as suas necessidades e as próprias pessoas e seu comportamento diante da mudança e aos seus impactos.
É claro que mudar dá muito trabalho. Cansa. Muitas vezes tira o sossego e assusta. Quantos de nós, em nossa própria vida, não nos acomodamos a determinadas situações e condições pelo medo do desconhecido? Por exemplo: mudar de casa, de trabalho, de namorado ou namorada, mudar de estilo de vida etc. Mudar implica evoluir, melhorar as condições de vida. Toda mudança implica movimento, e movimento é vida, é dinamismo, é paixão. Pode-se dizer que na vida tudo está em movimento o tempo todo. Em termos de mudança de padrão de vida acontece a mesma coisa. Muitas vezes as pessoas não são capazes de mudar; às vezes, não possuem a oportunidade que lhes propicie expectativas de mudança e, a pior das situações, é quando elas encontram enormes obstáculos na jornada de mudança impostas pelas condições de injustiças em que estão mergulhadas.
Existe um ditado chinês que diz o seguinte: “Ele não sabia que era capaz, só conseguiu porque alguém lhe avisou sobre isso!”. Quem sabe pode estar aí o segredo na mudança na vida dos Pobres. Para muitas pessoas é preciso avisá-las de que é possível mudar; dizer-las que a mudança é possível! É preciso ajudá-las sobre suas capacidades de mudança e de transformação de suas condições de vida.
São Lucas, o Evangelista dos Pobres, mostra que Jesus veio para proporcionar esperança para a vida dos Pobres. Em resposta à dura realidade dos Pobres e oprimidos, a comunidade cristã de Lucas transmite, interpreta e aumenta as mensagens de Jesus de Nazaré. Uma delas é o sermão da planície (Lc 6,17-49), que se equipara ao sermão da montanha de Mateus (Mt 5-7). O sermão, sobretudo em Lc 6,20-26, insiste no tema dos Pobres, famintos e injustiçados a quem o reino de Deus pertence. Anuncia assim que suas situações se reverterão. Haverá, diz Jesus, uma mudança, uma transformação na vida daqueles que assim crerem.
O livro “Sementes de Esperança – Histórias de Mudanças de Estruturas” revela que “atualmente, as pessoas engajadas em trabalhos e projetos relativos à redução da pobreza discutem com frequência sobre a necessidade de mudanças de todo o sistema de estruturas em que a pobreza é produzida. [...] As pessoas empenhadas em mudanças de estruturas e que trabalham com os Pobres compartilham esta convicção. Afirmam que, para mudar a situação dos Pobres, devemos enfocar não somente um problema particular, como dar de comer, por mais importante que esta solução seja num momento dado. A experiência nos ensina que soluções rápidas, mesmo que ajudem temporariamente, acabam sendo, muitas vezes, inadequadas a longo prazo. Para além dessas soluções, deve-se examinar todo o contexto socioeconômico em que os mais pobres vivem e, então, intervir de forma que o sistema como um todo seja modificado”.
Deve ser vivo o nosso testemunho e manifestado pelas ações: obras de justiça e de misericórdia que são um sinal de que o Reino de Deus está verdadeiramente vivo entre nós; dando de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, ajudando-os a encontrarem as causas de sua fome e de sua sede e a maneira de acalmar a ambas; por meio da linguagem das palavras: anunciando com profunda convicção a presença do Senhor, seu amor, seu oferecimento de perdão, sua disponibilidade para aceitar a todos; por meio da linguagem das relações pessoais: estando com os Pobres, trabalhando com Eles, formando uma comunidade que testemunha o amor de Deus pelas pessoas.
Padre Mizael Donizetti Poggioli (Congregação da Missão – CM)