Na primeira leitura (Eclesiástico 15,15-20), um antigo sábio de Israel propõe algumas considerações sobre a liberdade do homem que se exercita na possibilidade de escolher entre o bem e o mal. Ao mesmo tempo nos propõe um convite solícito a cumprir escolhas positivas, em harmonia com o desígnio providente de Deus.
Também o apóstolo Paulo, na segunda leitura, nos fala do desígnio de salvação, recordando-nos que se realiza através “a sabedoria divina, misteriosa, escondida”, revelada pelo Espírito àqueles que se fazem discípulos do Senhor Jesus.
Os apóstolos Pedro e Paulo, em suas viagens apostólicas, quando encontravam os habitantes de uma cidade, anunciavam não um evangelho escrito. O evangelho de Marco foi escrito cerca de três anos depois do martírio de ambos no ano 70. Mateus e Lucas escreveram pelo ano 80 e João foi o último a escrever, provavelmente em torno de 95.
O estudiosos que descobriram essas datas, procuraram também compreender como nasceram os Evangelhos. Convenceram-se que existiram escritos precedentes, obra de cristãos da primeira hora que não chegaram até nós. Havia as recordações pessoais de cristãos. Alguns começaram a escrever os “ditos do Senhor”, algum outro os relatos das suas parábolas, e dos seus milagres. Estas coletas várias, quase manuais, pequenos catecismos, serviam também para instruções de catecúmenos, isto é daqueles que pediam o batismo, e ajudavam os batizados a aprofundarem a fé.
Mais tarde os evangelistas, utilizando tais fontes, prepararam os evangelhos. Esses tornaram-se exposições completas e belas, de tal modo que os outros testos caíram em desuso e desapareceram.
Continuando agora a analisar o Sermão da Montanha, aberto com as Bem-aventuranças, continuado com a definição dos cristãos e da sua missão no mundo, Jesus disse que devemos ser “sal da terra e luz do mundo”, e agora traz uma terceira seção mais ampla, hoje e domingo próximo, em que Jesus apresenta a lei do Reino, o Código moral dos cristãos.
Jesus veio para trazer a nova lei da caridade, que chamamos cristã. Jesus não veio abolir a lei e os profetas, mas veio mostrar a sua continuidade com o passado, e assim o seu desenvolvimento e progresso são verdadeira novidade.
Jesus não é um revolucionário para construir o futuro, liquidando o passado, mas o tem como ponto de partida. Ele disse: “Não vim para abolir, mas dar cumprimento à lei”.
O cumprimento da lei se faz com a maior justiça que nasce da caridade cristã, do saber-se filhos de Deus e irmãos de Cristo.
Os paladinos da observância da lei antiga eram os escribas e fariseus. Mas esses paravam na sua exterioridade, merecendo de Jesus a acusação de hipócritas. Jesus admoesta os seus discípulos: “Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus”.
Jesus passa a propor os artigos de seu novo Código, recorrendo à antíteses, seis vezes, isto é com enunciados contrapostos. “Ouvistes o que foi aos antigos... mas eu vos digo” e formula a sua nova lei, segundo o mandamento do amor fraterno.
Disse Jesus: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: não matar; quem tiver matado vá a julgamento. Mas eu vos digo: “quem investe contra o irmão, será submetido a juízo”. Refere-se assim ao quinto mandamento e confirma a sua severidade. Em Israel ser submetido a juízo significava para o assassino a condenação, e a pena era a morte.
Jesus estende a severidade da lei, não somente ao caso gravíssimo do homicídio, mas também à falta menos grave no tratar os outros, compreendendo o enraivecer-se no relacionamento com os outros.
A caridade deve ser cumprida, Jesus pede a nós cristãos. E o explica: “Quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e aí te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta aí diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta”. E assim continua.