Aos Vicentinos Brasileiros
Ref.: 200 Anos do Nascimento de Frederico Ozanam.
Prezados confrades e caríssimas consocias:
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Vivemos um tempo favorável para refletirmos sobre nossa vocação vicentina, pois a comemoração dos 200 Anos do Nascimento de Frederico Ozanam suscita a oportunidade de avaliarmos se perseveramos fiéis aos mesmos ideais do Fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Sabemos que os principais objetivos que nortearam a inspiração de Frederico Ozanam foram: a motivação de “ir ao encontro dos Pobres”; e o comprometimento em buscar o “alívio da miséria espiritual e material dos mais necessitados”. Esses são princípios que estruturam a vocação vicentina e merecem – através de um exame de consciência – que todos os confrades e todas as consocias façam uma análise bem criteriosa, se de fato ainda permanecem inabaláveis no exercício desses propósitos.
Temos o dever de manter contínua memória de que nossa vocação vicentina é “um chamado pessoal de Deus para servir aos Pobres”, e assim, cabe a cada vicentino revisar sua vida e compreender que “a escolha de Deus” impõe a responsabilidade de saber a importância que “cada escolhido” tem na vida daqueles que carecem de alguma necessidade.
Devemos meditar com persistência no grande questionamento evangélico: “ ...quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou sem roupa, doente ou preso, e não te servimos?” (Mateus 25, 44).
Encontramos na atualidade muitos desafios para reconhecer “o próximo” nas situações de miséria anunciadas no Evangelho mencionado, porque o contexto de hoje da pobreza é bastante complexo: desagregação familiar, dependência do álcool e das drogas, violência contra a mulher, abandono escolar, criminalidade urbana, e a nova conjuntura econômica do país, que alterou o padrão de necessidades das famílias carentes, que estão “dispensando” o auxílio com gêneros alimentícios, e passaram “a fazer pedidos” que fogem da maneira tradicional de atuação das Conferências Vicentinas; sem contar a gravidade da “ausência de Deus”.
Precisamos reagir diante das seguintes indagações da realidade recente, que estão afetando a rotina dos Vicentinos Brasileiros: como identificar “o próximo que padece”?
e, como realizar as “mudanças de estruturas” tão necessárias?
A solução para tais questões está no ensinamento de Frederico Ozanam: “ser Pobre como os Pobres”.
Tentamos insistentemente praticar a lição transmitida por Ozanam, mas – infelizmente – na maioria das vezes não conseguimos, pois somos condicionados – geralmente – a fazer a caridade no papel do “bom samaritano”, quando na verdade deveríamos personificar a figura do “viajante abandonado na estrada”, tão bem retratado no Evangelho com o título “O amor é prática concreta”, narrado por Lucas (10,25), que exprime com perfeição como podemos “ser Pobre como os Pobres”.
Queremos sempre – e isso é próprio da fragilidade humana – obter um sinal forte que confirme a mensagem bíblica. Na expectativa de contribuir em afirmar a verdade contida na pregação de Lucas (10,25), deixo meu testemunho: Vivo uma experiência muito significativa do amor de Deus.
Estou passando por um tratamento de saúde, devido a uma enfermidade que paralisa os movimentos do corpo, e com isso, acarreta a total dependência de todos os cuidados necessários para uma sobrevivência digna. Nessa condição, sinto concretamente “como ser pobre”. Tenho o privilégio de receber diuturnamente a dedicação incondicional de pessoas que sabem identificar “o próximo que padece”, e acima de tudo, se dispõem “a servir” fazendo o melhor. Essas pessoas – as quais destaco: minha esposa, minhas filhas, meus familiares e amigos, e minha competente e dedicada equipe de profissionais – são “anjos enviados por Deus” que compreenderam o exato sentido da parábola do “bom samaritano” (Lucas 10,25), e conseguem colocar em prática a plena dimensão das palavras “compaixão” e “misericórdia”.
Desta maneira, o amor desses “irmãos em Cristo” tem o poder de “fazer milagres”, pois são “o melhor remédio para a minha doença”, e dão a força e a coragem necessárias para reafirmar as minhas convicções e meus lemas de vida: “Tudo passa, Deus é bom”; “Para Deus nada é impossível”; e principalmente a minha crença no Evangelho: “Se queres, tens o poder de curar-me. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: ‘Eu quero, fica curado!’” (Marcos 1, 40-41).
Por fim, baseado no testemunho relatado, enalteço a importância da vocação vicentina e reconheço o valor de cada vocacionado para o serviço aos Pobres, como “filhos e filhas prediletos de Deus” para mudar e transformar a vida dos necessitados.
Portanto, conclamo a todos os Vicentinos para continuarem incansáveis em fazer sempre mais e melhor pelos carentes, jamais desistirem da vocação vicentina, e nunca deixarem de seguir o que foi proclamado por Jesus Cristo: “Vai, e faça você o mesmo.” (Lucas 10, 37).
Abraços fraternais,
Confrade João Marcos Andrietta