Código de Conduta Ética do Vicentino, para que serve?

Ponto de Vista: Artigo 17, Inciso III, Regra da SSVP 

O Título desse artigo nos remete a uma reflexão pessoal, mas complexa acerca da maneira como devemos administrar nossa trajetória vicentina.

A pergunta que vem à cabeça é:

Para que serve as orientações contidas no Código de Conduta Ética do Vicentino e da Administração da SSVP?

Será que obedeço todas as orientações contidas neste Guia?

Será que como Líder Vicentino (a), Dirigente ou Gestor (a) eu sei que os recursos financeiros da SSVP pertencem tão somente ao Pobre?

Estou administrando o encargo a mim confiado por Deus de forma cristã? Tenho cumprido o Regulamento da SSVP a contento?

Assunto Complexo, não é mesmo?

Mas de imprescindível reflexão... continue lendo...

Se eu valorizo de fato minha vocação vicentina, tanto a Bíblia, quanto a Regra da SSVP e o Código de Conduta Ética do Vicentino e da Administração da SSVP devem ser considerados como os meus “livros de cabeceira”, os quais não posso desprezar.

Talvez alguns dos leitores pensem que é exagero tocar nesse assunto de forma assim tão crítica, mas comparemos nossa caminhada vicentina á rosas e espinhos: Se quero colher rosas, será preciso passar pelos espinhos.

Talvez todos nós Líderes Vicentinos (as), Dirigentes, e Gestores (as) escolhidos por Deus para administrar de forma cristã e responsável o encargo a mim confiado, não precisássemos ser cutucados sobre as obrigações a serem cumpridas, pois nos consideramos Cristãos comprometidos com nossa vocação, entretanto, nesse mundo de imperfeições, é preciso buscar sintonia com Jesus Cristo durante as vinte e quatro horas do dia através de oração ininterrupta e possuir muito Zelo (Regra – 1ª parte, 2.5.1), senão por sermos humanos e vivermos em meios as imperfeições desta terra, corremos o risco de cair em tentação. A fé se esvai e quando menos esperamos damos às costas a vocação vicentina, vocação que recebi de presente do próprio Cristo Ressuscitado. A partir daí, fechamos os olhos ao cumprimento da Regra e, por conseguinte não saberemos decifrar o que diz o Código de Conduta Ética do Vicentino.

 Com o intuito de não ficar para trás neste período de transição da SSVP, tenho procurado partilhar ao máximo as orientações da ECAFO, além de ler tudo que posso sobre a SSVP, especialmente a Regra e os livros da “Coleção Vicentina”. Acesso diariamente a Internet pesquisando Sites Vicentinos para me atualizar. Me esforço ainda para ler tudo sobre Antônio Frederico Ozanam (Regra – 1ª parte, 2.4) e sobre São Vicente de Paulo (Regra – 1ª parte , 2.5).

 Hoje resolvi fazer a leitura do Código de Conduta Ética do Vicentino e da Administração da SSVP instituído em 2013 pelo Conselho Nacional do Brasil que em sua introdução diz:

 

 “Norteia-se por princípios que formam a consciência de dedicação do vicentino e representam imperativos de sua conduta, tais como: lutar pela igualdade social, pugnar pelo cumprimento das Leis do País e da Regra da SSVP, fazendo com que ela seja interpretada com retidão, em perfeita sintonia com os fins sociais a que se dirige, visando minimizar a situação das pessoas carentes de recursos, levando-se em conta as exigências para diminuir a desigualdade existente entre as classes, ser fiel à verdade e aos primados difundidos por Antônio Frederico Ozanam e seus companheiros”. O Vicentino deve proceder com lealdade e boa fé em suas relações entre confrades/consocias, com os assistidos, órgãos da hierarquia e as autoridades, especialmente quando ocupar cargos de direção, jamais permitindo que o anseio de ganho material sobreleve à finalidade social do seu trabalho; aprimorar-se no culto dos princípios éticos e honestos, de modo a tornar-se merecedor da confiança dos confrades, da hierarquia do SSVP e da comunidade como um todo, pela probidade pessoal; agir, em suma, com a dignidade das pessoas.

Assim, com o objetivo de estabelecer preceitos éticos e honestos para seus associados e colaboradores e de padronizar condutas e procedimentos, reduzindo a subjetividade das interpretações pessoais sobre princípios morais, o Conselho Nacional do Brasil, da Sociedade São Vicente de Paulo institui o presente Código de Conduta Ética do Vicentino e da Administração da SSVP, de acordo com o que dispõe o artigo 150, inciso II, da Regra da SSVP, um guia para orientar o comportamento individual esperado de seus associados, voluntários, dirigentes e colaboradores e delinear a cultura e as políticas organizacionais que deverão ser adotadas pela SSVP e por suas entidades unidas, exortando-os à sua fiel observância.”  (Código de Conduta Ética do Vicentino e da Administração da SSVP. CNB- julho,2013).

 

Confesso que fiquei um pouco decepcionado ao perceber que após quase dois anos de publicação desse importante Guia de orientações, muitos vicentinos engavetaram ou não valorizaram suas orientações, pois continuamos a observar práticas e atitudes que infelizmente desnorteiam a obediência. Não posso aqui generalizar minha conclusão, pois, é provável que esta desobediência não aconteça em toda a SSVP, mas não posso também deixar de pontuar algumas atitudes que considero completamente contrárias as orientações contidas na Regra.

Talvez seja provável de que muitos Confrades e Consócias desconhecem a Regra Vicentina, ou outros nem sequer leram o Código de Conduta Ética ou possivelmente tenham faltado ao curso da ECAFO e possivelmente não sabem o que fazem.

Considerando esta possibilidade, como sugestão, o CNB (Conselho Nacional do Brasil) através da ECAFO poderia inserir no Módulo de Formação Básica e no Curso para Novas Diretorias, as Orientações da Regra da SSVP e também do Código de Conduta Ética do Vicentino como forma de conscientização àqueles que venham assumir encargos no seio das SSVP, pois, pode ocorrer que alguns não possuem o hábito da leitura ou mesmo aqueles que já leram e refletiram com o tempo acabaram por desprezar a leitura causando esquecimento de orientações tão essenciais ao desempenho do encargo.

Lamentavelmente, ainda observamos Vicentinos (as) de longa caminhada  descumprindo a Regra (Art. 18, Inciso I), Vemos também Unidades  Vicentinas deixando de apresentar os mapas estatísticos, não fazendo prestação de contas e não efetuando o pagamento de décimas (Art. 47,48,49); Observamos ainda alguns Dirigentes e membros de Diretoria das Unidades Vicentinas sem Conferência e sem realizar visita domiciliar ás Famílias Assistidas (Art.18, Inciso II); outros  não conseguem compor suas diretorias por completo, deixando em toda a gestão pastas vazias e essenciais ao desenvolvimento das atividades como: Ecafo, Comissão de Jovens, Conferência de Criança e Adolescentes, Decom; Ainda existem Dirigentes que não se sentem necessitados a participar dos cursos da Ecafo, uma vez que se consideram auto-suficientes. Observamos Unidades Vicentinas remunerando funcionários com altos salários ou com salários que não condizem com a realidade e o perfil da Instituição. É urgente que o DENOR tome providências com relação a isso.

É preciso que se tome muito cuidado na realização de eventos beneficentes em nome da SSVP tipo: Rifas, Bingos e outros sem que ocorra o devido cumprimento da legislação vigente (Art.18, Inciso IV). Não que não se possam realizar tais promoções, é claro que sim, aliás, devemos (Art 18, Inciso VII), desde que se faça obedecendo às normas governamentais. Corre-se o risco de sermos notícia negativa a nível nacional, pois sem a devida autorização estamos cometendo o crime de sonegação fiscal. É muito compreensível que as Unidades Vicentinas captem recursos para a sua manutenção, mas que se faça com responsabilidade (Art 18, Inciso VII).

É preciso também analisar com cuidado o custo benefício de eventos, por exemplo: um evento beneficente cuja finalidade da renda será revertida para uma festa a ser usufruída por quem cuida, requer uma análise mais cuidadosa se a despesa do evento vai ou não beneficiar as famílias assistidas, o que o nosso pobre vai ganhar com isso? Quem precisa de festa, sou eu ou o nosso pobre? Não que eu não precise da alegria de uma grande festa regulamentar, afinal sua realização está na Regra, falo que devemos realizá-la de acordo com as condições normais da Unidade Vicentina.

 Porque não realizar uma festa simples (1ª virtude da Espiritualidade Vicentina) e humilde? (2ª virtude da Espiritualidade vicentina).

Acumulei ao longo de três décadas de caminhada vicentina uma bagagem que me fez apaixonar de fato pela SSVP. E após todo esse tempo, chego à conclusão de que nada aprendi e preciso cada vez mais continuar aprendendo e melhorando o meu desempenho como Vicentino, para isso não posso arredar os pés da Conferência tendo como missão primordial a visita às famílias assistidas, razão de ser da minha vocação.

Após todo esse tempo de vivência vicentina, tenho consciência de que nada fiz e muito ainda tenho por fazer e me considero muito pequeno diante do muito que ainda precisa ser feito. Sei que as minhas limitações humanas me impedem de fazer mais, mas eu preciso melhorar, sei disso...

A partir de 2014 tenho partilhado muitas reflexões acerca do termo “mudanças de estrutura” e agora em 2015 “Tecendo a Caridade”. Conclui que as mudanças necessárias a melhoria de vida de nossos Assistidos depende única e exclusivamente da minha mudança interior e da minha maneira de imitar São Vicente e Ozanam, ou não quero imitá-los?

Sei que sou um simples Confrade com amor total pela SSVP,  aprendi a observar atitudes que geram conseqüências tanto positivas como negativas. As positivas nos engrandecem e nos fortalecem, mas as negativas nos enfraquecem, tira-nos o espírito de iniciativa e coage a obediência. Às vezes sinto necessidade de frear a língua para não cometer injustiças ao tocar em assuntos que remetem a cobrança de atitudes, mas confesso que antes de escrever estas palavras, pedi a inspiração do Espírito Santo sendo possível expor esse ponto de vista.

Concluindo penso que as práticas contrárias a Regra feitas por alguns de nossos irmãos vicentinos que, diga-se de passagem, são feitas involuntariamente, contrastam com o carisma vicentino e com os princípios fundamentais cujo nosso Fundador Ozanam se mostrara tão preocupado após a criação das SSVP. É bem provável de que tais atitudes impensadas causem danos irreversíveis à “SSVP”. Por outro lado, como boa notícia, a maioria de nossos Lideres Vicentinos cumprem rigorosamente o seu papel no dando belos exemplos, cumprindo a Regra e o Código de Conduta do Vicentino fazendo com reine em nossos corações a esperança de que em um futuro próximo 100% estejam fazendo sua parte.

Enquanto não acontece, é urgente que todos se conscientizem de que a “Mudança de Estrutura” tão claramente explicitada pela Ecafo incansavelmente em 2014 aconteça de fato em toda a SSVP, a partir da “Mudança Interior” e também naqueles que já sabem a lição de cor, mas ainda resta aprender... A partir daí a teia da caridade poderá ser planejada, projetada e tecida realizando finalmente o sonho de nosso Confrade Ozanam.  

 

Cfd. Donizetti Luiz

Membro da Conferência Sagrada Família

Coordenador do DECOM CM Goiânia