Como Jesus gostaria

DORA STEPHAN, JORNALISTA E MESTRE EM COMUNICAÇÃO SOCIAL PELA UFJF

 

Dar o peixe ou ensinar a pescar? Esse dilema sempre pairou sobre os cristãos. Há determinados momentos históricos, sobretudo os de crise profunda, em que nem sempre é possível ficar com a segunda opção, sob pena de se deixarem à míngua seres humanos. E é nesse momento que as religiões, independentemente de sua origem, devem vir ao socorro da humanidade. Afinal, uma das funções precípuas das igrejas é promover o bem-estar de seus fiéis, nutrindo não só o espírito mas também a carne.

E é nesta perspectiva que a Igreja Católica de Portugal vem agindo, há muito tempo, por meio de instituições a ela vinculadas, como foi magistralmente relatado por um doutorando da Universidade de Nova Lisboa, Jorge Botelho Moniz, ao apresentar um trabalho científico intitulado: “A crise em Portugal e a indispensabilidade social da Igreja Católica”, no Simpósio da Associação Brasileira de História das Religiões, realizado recentemente na UFJF, ao qual tivemos o privilégio de assistir.

O artigo versava principalmente sobre a atuação da Igreja Católica naquele país, cujo trabalho sociocaritativo tem sido de vital importância. Conforme o relato do doutorando, a Igreja Católica, não raro, cumpre lá funções que caberiam ao Estado. Sem se importar com a discussão sobre o que cabe a quem, a instituição segue socorrendo os desvalidos, principalmente em momentos de crise financeira aguda. O mais interessante é que, segundo o aluno português, independentemente do sistema e do regime sociopolítico vigentes, seja no período Salazarista, seja a partir da Revolução dos Cravos, a Igreja Católica de lá leva a cabo o exercício da caridade.

Não queremos dizer com isso que a Igreja Católica no Brasil não faça caridade, haja vista, somente para exemplificar, o edificante trabalho dos Vicentinos. A perspectiva de uma Igreja verdadeiramente comprometida com a caridade é corroborada pelo Papa Francisco, que na última Sexta-Feira da Paixão distribuiu envelopes contendo dinheiro para 300 sem-teto que vivem pelas ruas de Roma.

Para finalizarmos, recorreremos a um título bastante sugestivo de uma obra literária, que também virou filme: “Comer, rezar e amar”. Comecemos pelo rezar. Não restam dúvidas de que a oração deve ser estimulada pelas Igrejas, pois é, dentre outras funções, a forma milenar de se comunicar com o Ser Supremo. Quanto ao comer, queremos frisar o exemplo de Portugal, onde a Igreja Católica, a despeito dos que criticam o assistencialismo, quando em dada circunstância a fome é inevitável, opta por dar o peixe. Por último, vem o amar. No sentido de amar o próximo, esse verbo só pode ser conjugado em todos os tempos e modos pelas igrejas se elas se empenharem em ajudar a minimizar o problema da fome em nosso planeta.