Os leigos em economia se regem para avaliar-lhe a saúde pelo crescimento do PIB. Quando ele baixa, pior quando esbarra no zero ou é negativo, acendem-se as luzes de perigo. O país tem obrigação de crescer, esteja em que patamar estiver. Mesmo quando já produz montanhas de bens supérfluos e não sabe onde estocá-los, pesa-lhe a sina de ainda crescer.
Enquanto a centralidade do mercado dominar, dificilmente sairemos desse raciocínio. Imaginemos a loucura de um país, que já produz para si e para quase todo mundo, dizer-se: vamos reduzir o consumo, simplificar a vida, viver de maneira sóbria. As taxas de produção caem. As pessoas gastam menos. Dispõem de menos bens para escolher. Elas se sentirão menos felizes? Ou quem sabe terão tempo para conviver, conversar, comunicar-se entre si.
No fundo se esconde uma concepção do ser humano. Há duas linhas fundamentais para entendê-lo. Ele se realiza à medida que dispõe de bens materiais. Quanto mais dominar coisas, posses, tanto mais se sente com seu eu poderoso. Maneja e manipula infinitos bens e posa-se como soberano. Há hotéis de alto luxo para freqüentar, automóveis de extrema sofisticação para dirigir, roupas de grifes famosas para vestir, manjares esquisitos para comer, imóveis abundantes de extremo valor a comprar. Os desejos se expandem sem limite. Mas, em dado momento, brota a única pergunta séria e ineludível da vida: para que tudo isso? Onde se situa a minha de liberdade de relacionar com outras liberdades e não com coisas? Constituimo-nos pessoas precisamente pelas relações pessoais. Toda outra permanece na superfície e não nos constroi por dentro.
A economia mostra-se cega em face do único problema humano importante. Ela não tem nenhuma palavra para favorecer o relacionamento entre as pessoas. Não se compra com todo o dinheiro do mundo o sorriso de uma criança, o amor de alguém, a beleza de um coração puro. O crescimento material não acrescenta uma polegada no tamanho da felicidade humana. Tem gerado ilusões que terminam em depressão e em busca da felicidade química. A euforia vem da serotonina e não do coração que ama, que contacta com carinho as outras pessoas. Os bens se amontoam, mas a convivência humana não melhora. Em seu lugar brota muita violência, muita infelicidade.
O crescimento humano de um país não se afere pelos indicadores econômicos, mas pela maior ou menor capacidade de o povo conviver bem, sem violência, sem ódio, sem discriminação social, étnica e religiosa. A alegria da existência não nasce do encontro com as coisas, mas com pessoas que acolhem, que cuidam. Tem-se vontade de escrever com letras garrafais: “Só a convivência amiga faz um povo feliz”. A abundância de bens materiais tem produzido o contrário. Tem gerado ódio, inveja, projetos de roubo e seqüestros. A simplicidade de vida com pitada de bom humor vale mais que a carranca rica do empresário de capitais gigantescos.
Pe. João Batista Libânio