Viva Lindalva Justo, a bem-aventurada vicentina brasileira

A memória litúrgica de Irmã Lindalva Justo foi celebrada ontem (7)

 

Nascida na região rural de Assú (Rio Grande do Norte), em 20 de outubro de 1953, Lindalva era a sexta de treze irmãos. No seio da família aprendeu as primeiras orações e rudimentos da fé. Seu pai lia a Bíblia com frequência para todos os filhos e levava-os à Santa Missa. Com a mãe, aprendeu a cuidar dos mais pobres e ajudá-los em suas necessidades — ofício que viria a se tornar a sua vocação pelo resto da vida.

Já na idade adulta, mudou-se para Natal, época em que passou a frequentar a casa das Filhas da Caridade e o asilo de idosos em que elas trabalhavam. Depois de assistir amorosamente o pai, vítima de um câncer, nos últimos meses de sua vida, Lindalva começou a refletir mais seriamente sobre a vocação e o sentido da própria vida. Aos 33 anos, então, pediu a admissão ao postulantado das Filhas da Caridade, e efetivamente o começou a 11 de fevereiro de 1988, na casa provincial de Recife.

Durante esse período, edificou bastante todas as suas companheiras, refulgindo por sua especial alegria e prontidão no cuidado para com os pobres. Comprometeu-se a servir os mais necessitados de uma favela, chegando inclusive a transportar tijolos para a construção de casas no bairro — tudo isso acompanhado de uma intensa vida de oração.

Em 1991, já como noviça, Lindalva foi transferida para Salvador, Bahia, a fim de prestar seus serviços num asilo de idosos. Era notável a cordialidade com que a irmã tratava todas as pessoas, realizando os trabalhos mais humildes e fomentando nos idosos de que cuidava a oração e recepção contínua dos sacramentos.

Todavia, em janeiro de 1993, chegou ao asilo um homem chamado Augusto da Silva Peixoto, o qual, embora não tivesse direito a entrar devido à sua idade (46 anos), obtivera uma recomendação para ser acolhido. A Irmã Lindalva procurou tratá-lo com a mesma cortesia que dispensava aos outros hóspedes, mas este senhor, de caráter difícil, apaixonou-se pela jovem religiosa. 

Começou para ela, então, um período muito difícil de provações. Compreendendo as intenções de Augusto, primeiro Lindalva tentou fazê-lo compreender que era totalmente consagrada a Deus. Mesmo com medo do homem, não queria deixar o asilo, pois amava as obras de caridade que fazia. “Prefiro que meu sangue seja derramado do que afastar-me daqui”, confessou a uma das irmãs.

Ante o comportamento de Augusto, Lindalva advertiu o diretor de serviço social do asilo, o qual chamou a atenção do senhor — e este prometeu corrigir-se. Mas, nos dias anteriores à Semana Santa, cresceram nele a raiva e o ódio, bem como o desejo de vingar-se. 

Na Sexta-feira Santa, então, dia 9 de abril, com uma peixeira que havia comprado dias antes, Augusto dirigiu-se até o pavilhão onde Irmã Lindalva servia aos idosos o café da manhã e esfaqueou-a pelas costas, acima da clavícula. A faca atravessou-lhe a jugular e penetrou profundamente em seu pulmão. Tomado por um frenesi diabólico, então, o homem continuou a feri-la em vários lugares. (Os médicos legistas identificaram nada menos que 44 perfurações em todo o seu corpo.) As pessoas que estavam ao redor tentaram intervir, mas o assassino ameaçou matar quem quer que se aproximasse. No tribunal, Augusto declarou que tinha assassinado a religiosa precisamente por causa da rejeição que sofrera.

Já no dia seguinte, Sábado Santo, ao celebrar as exéquias de Lindalva, o Cardeal Lucas Moreira Neves, então arcebispo de Salvador, não pôde deixar de relacionar o martírio da religiosa com a Paixão de Cristo. 

No dia 2 de dezembro de 2007, o Papa Bento XVI beatificou-a, e a data de sua comemoração — ainda não inscrita no calendário litúrgico do Brasil — ficou sendo 7 de janeiro, aniversário de seu batismo.