«Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe»

Semana de 4 de junho de 2018 (referência: leituras do domingo 10 de junho)

10º. Domingo do Tempo Comum

Leituras: Gn 3, 9-15; 2 Cor 4, 13-17; Mc 3, 20-35

 

«Eis minha Mãe e meus irmãos.  Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

 

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo, Jesus chegou a casa com os seus discípulos.

E de novo acorreu tanta gente, de modo que nem sequer podiam comer.

Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter, pois diziam: «está fora de Si».

Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu”,

e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios».

Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas:  «como pode Satanás expulsar Satanás?»

Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se.

E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode aguentar-se.

Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está perdido.

Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar:

só então poderá saquear a casa.

Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos filhos dos homens:

os pecados e blasfémias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo

nunca terá perdão; será réu de pecado eterno».

Referia-Se aos que diziam: «está possesso dum espírito impuro».

Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, mandaram-No chamar.

A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram:

«Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura».

Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?»

E, olhando para aqueles que estavam à sua vota, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos.

Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

 

 

Reflexão vicentina

 

Neste domingo, as leituras nos levam a refletir sobre o bem e o mal e a nossa escolha entre eles, baseada no livre arbítrio, um presente de Deus em nossa criação. 

 

O texto do Gênesis foi supostamente escrito no século X antes de Cristo e não tem o objetivo de ser uma narração baseada em fatos históricos. O objetivo é teológico, de catequese, para nos levar a pensar sobre o tema da escolha entre o bem e o mal.  Ao escolher comer o fruto proibido (a maçã), está envergonhado de si mesmo (está nu) e culpa a mulher pela desobediência a Deus.  Mais do que isso, ele culpa a Deus, pela “mulher que Ele lhe deu”: além de querer mostrar autossuficiência, ainda se coloca em uma posição de conflito com Deus.  A mulher tem a mesma resposta de covardia e culpa a serpente (símbolo da fertilidade para os antigos).

 

Na Carta aos Coríntios, Paulo retoma o aspecto da escolha por Cristo, mas dando muito mais importância à nossa intenção do que ao resultado do que fazemos. “Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia. (...) Porque não miramos as coisas que se veem, mas sim as que não se veem. Pois as coisas que se veem são temporais e as que não se veem são eternas".  Se agimos com boa fé, devemos seguir nossas escolhas, mesmo que elas pareçam más aos olhos dos outros: o que importa é o que Deus vê e o que Ele vê é o nosso interior, nossa motivação e intenção. Quantas vezes, nós temos que tomar decisões difíceis, para o bem dos outros, mas que nos custam oposição, conflito e vingança dos outros! Paulo passava exatamente por um momento destes, em relação aos coríntios, quando escreveu esta carta.

 

Isso mesmo aconteceu com Jesus, quando Ele pregava e realizava milagres em Cafarnaum.  Sua única intenção era mostrar o Reino de Deus.  Seus inimigos se colocaram logo contra Ele, maldizendo-O, tentando convencer as pessoas de que Ele agia pelo demônio e não pelo Espírito Santo.  Não poderia haver maior ofensa a Cristo do que esta blasfêmia, e Jesus responde mostrando sua tristeza: “tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfêmias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão; será réu de pecado eterno”.

 

Depois, Cristo consola aos que acreditam Nele (e no Reino de Deus que Ele prega), dizendo que estes são parte de sua família: “quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe”.

 

Na condição de vicentinos, muitas vezes temos que fazer escolhas: fazer visita em vez lazer; comprar a bolsa para o Pobre em vez de gastar com a diversão; construir a casa do Pobre em vez de gastar com algum luxo; ser fiel ao esposo ou à esposa em vez de “seguir o mundo”; adorar ao Santíssimo Sacramento, mesmo quando todos dizem que está fora de moda; viver na simplicidade em vez de seguir o materialismo. Tudo isso é razão de nossas opções no dia a dia.  Se tudo isto o fizermos para a glória de Deus, na pessoa do Pobre, seremos irmão ou irmã de Jesus.

 

Na condição vicentinos, às vezes, também sofremos com os outros: nos decepcionamos com o assistido, somos objeto de maledicência, somos incompreendidos, somos traídos pelos próprios amigos.  Nestes momentos, mais do que nunca, somos irmãos ou irmãs de Jesus, participamos de sua paixão e morte, e nos aproximamos da verdadeira Vida que Ele nos prometeu.  Nestes casos, não importa a opinião dos outros, porque nossa intenção é reta: importa que o Senhor veja o que os outros não veem, a nossa intenção. Como rezava Santa Teresa de Calcutá: “nunca foi entre nós e os homens, mas entre nós e Deus”.

 

 

 Confrade Eduardo Marques