Temos sempre que fazer escolhas: os valores do mundo ou os eternos

Semana de 20 de agosto de 2018 (referência: leituras do domingo 26 de agosto)

21º. Domingo do Tempo Comum

Leituras: Jos 24,1-2a.15-17.18b; Ef 5,21-32; Jo 6,60-69

 

Temos sempre que fazer escolhas: os valores do mundo ou os eternos

 

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,

muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram:

«Estas palavras são duras.

Quem pode escutá-las?»

Jesus, conhecendo interiormente

que os discípulos murmuravam por causa disso,

perguntou-lhes:

«Isto escandaliza-vos?

E se virdes o Filho do homem

subir para onde estava anteriormente?

O espírito é que dá vida,

a carne não serve de nada.

As palavras que Eu vos disse são espírito e vida.

Mas, entre vós, há alguns que não acreditam».

Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início,

quais eram os que não acreditavam

e quem era aquele que O havia de entregar.

E acrescentou:

«Por isso é que vos disse:

Ninguém pode vir a Mim,

se não lhe for concedido por meu Pai».

A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se

e já não andavam com Ele.

Jesus disse aos Doze:

«Também vós quereis ir embora?»

Respondeu-Lhe Simão Pedro:

«Para quem iremos, Senhor?

Tu tens palavras de vida eterna.

Nós acreditamos

e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

 

Reflexão vicentina

 

As leituras deste domingo seguem o mesmo raciocínio dos anteriores, levando-nos a refletir sobre as nossas opções, nossas escolhas por Deus ou por “outros deuses” que nos são apresentados no mundo.

 

Na primeira leitura, Josué, o líder das doze tribos de Israel, convida-as a fazer uma escolha: “escolhei hoje a quem quereis servir”, se querem “servir o Senhor” ou servir outros deuses. O Povo escolhe claramente “servir o Senhor”, pois viu, na história da libertação do Egito que só Ele proporciona vida, liberdade, bem-estar e paz. 

 

Como a segunda leitura (da Epístola de São Paulo aos Efésios) pode ser considerada muito controversa nos dias de hoje, gostaria de concentrar sobre ela a nossa reflexão.  Paulo pede que as mulheres sejam submissas aos maridos e pede que os maridos amem as suas esposas.  Ora, esta afirmação pode parecer discriminatória nos dias de hoje, mas não era nos tempos de Jesus, quando o homem era a cabeça da família. 

 

Mas é importante propor uma forma alternativa de ver este belíssimo texto de Paulo.  Em primeiro lugar, Paulo traz para o seio da família o tema da necessidade de fazer opções.  Novamente, baseando-se na ideia da consistência entre a visita domiciliar ao Pobre e a vida social do dia-a-dia, que é um dos pilares essenciais da vocação vicentina, é fundamental que nossas “opções por Deus” sejam feitas, em particular, na vida familiar.  Seria inconcebível, por exemplo, optar por Deus fazendo a visita ao Pobre e “optar pelo mundo” nas decisões de fidelidade, respeito e amor à família.

 

De fato, o Concílio Vaticano II expressa claramente este contexto.  “Os esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição” (Gaudium et Spes, 52).

 

Em segundo lugar, quando Paulo fala sobre submissão, não se refere a escravidão, mas ao serviço amoroso.  Ao mesmo tempo, quando se refere ao amor dos maridos, trata não de um amor qualquer, mas do amor sublime com que Cristo ama a sua Igreja, a tal ponto de doar a sua própria vida por Ela.  Desta forma, se nós, vicentinos, nos colocamos a serviço amoroso dos Pobres, como nossos “mestres e senhores”, muito mais devemos fazê-lo no encontro do dia-a-dia com nossos queridos familiares.

 

Finalmente, se Paulo escrevesse esta mesma epístola nos dias de hoje, utilizaria os mesmos verbos (ser submisso e amar), sem nenhuma diferença entre maridos e esposas.  Portanto, como vicentinos ou vicentinas, temos que realizar as duas ações (submissão e amor) de forma integral e completa, na direção daquela ou daquele que Deus nos uniu “até que a morte venha a nos separar”.