Semana de 23 de outubro (referência: leituras do domingo 29 de outubro)
30º Domingo do Tempo Comum - Leituras: 1Ts 1,5c-10; Mt 22,34-40
Reflexão vicentina
Antes de começar a refletir sobre as leituras desta semana, é necessário fazer uma curta identificação dos grupos sociais do tempo de Jesus. Havia muitas tribos em Israel, mas alguns grupos sobressaíam: os saduceus, os doutores da lei, os fariseus, os zelotas, os sicários, os erodíamos e os essênios. No Evangelho desta semana, Mateus conta que “os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: 'Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?'” (vers. 34-36).
Os saduceus eram proprietários de terras e membros da elite sacerdotal. Com o poder na mão, eram intransigentes com o povo. Foram eles os responsáveis pela morte de Jesus, porque eram colaboradores do império romano, com medo de perder seus cargos e privilégios. Já os fariseus eram nacionalistas contra o império romano. Eram formados principalmente por artesãos e pequenos comerciantes. Na religião, caracterizavam-se pelo rigoroso cumprimento da Lei em todos os campos e situações da vida diária. Portanto, para os fariseus, o importante era a “letra” e não o “espírito” da lei.
Se Jesus tinha “feito calar os saduceus”, é porque tinha poder e a única forma de contrapô-Lo era através do “teste da lei”. Por isso, os fariseus perguntaram sobre o maior mandamento da lei.
Jesus, sabia aonde queriam chegar e não hesitou em começar pelo credo básico (Shema) do judaísmo que se apresenta no Deuteronômio (Dt 6, 5). Ele diz: '`Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!' Esse é o maior e o primeiro mandamento” (vers. 37-38). Significa que devemos amar a Deus com um amor total, que controla nossas emoções, dirige nossos pensamentos e move cada uma de nossas ações.
Mas Jesus acrescenta, imediatamente, o segundo mandamento “que é semelhante ao primeiro”, dizendo: `Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (vers. 39-40).
Estes dois mandamentos são os fundamentais para o cristianismo. Na realidade, são os fundamentais, em particular para os vicentinos. Como Deus está no próximo, particularmente no Pobre, como está em nós, não podemos amar a Deus sem amar o nosso próximo. Mas é preciso amar o Pobre de uma forma muito especial: como amamos a nós mesmos; nem mais nem menos.
Sem dúvida, a palavra – ou a lei - é importante, a evangelização é importante, mas a fé e o amor são o fundamental. Na Carta aos Tessalonicenses desta semana, Paulo reforça este conceito: “a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte. Assim, nós já nem precisamos de falar, pois as pessoas mesmas contam como vós nos acolhestes” (vers. 8-9).
Termino esta reflexão com uma belíssima frase de Santo Agostinho: “ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.