“A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador”.
Reflexão vicentina
Nesta semana, celebramos a Assunção de Nossa Senhora ao céu. Sabemos que a diferença entre ascensão e assunção é que na primeira é a própria pessoa que ascende ao céu; na segunda (assunção), o poder de levar ao céu é de outra pessoa e não de quem vai, efetivamente. Jesus ascendeu ao céu, porque é pelo seu poder (o poder divino) que Ele foi. Maria foi assunta ao céu, porque é também pelo poder de Deus que ela subiu ao céu. Não há um só texto do Novo Testamento que ateste a Assunção de Maria, mas ela é aceita pela tradição da Igreja.
Na leitura desta semana, Paulo não fala sobre a ascensão ou assunção; ele fala sobre a ressurreição dos mortos. Evidentemente, nós não podemos ser assuntos ao céu, em corpo e alma, porque esta prerrogativa pertence somente a Maria. É o único caso de assunção ao céu e é perfeitamente compreensível: se Maria recebeu no seu ventre a Deus, por obra do Espírito Santo, é merecedora de subir com seu corpo e alma ao céu.
A reflexão do texto belíssimo do Evangelho desta semana, deve se concentrar no diálogo maravilhoso entre Isabel e Maria. Isabel diz, ao perceber que o seu filho treme em seu ventre quando Maria entra em sua casa: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu".
E Maria responde com um dos textos mais belos da Bíblia: "A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome! Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam. Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos. Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos despediu, sem nada, os ricos. Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre".
Tendo citado este diálogo, gostaria de me concentrar na parte do do Evangelho desta semana que considero ser um dos mais vicentinos da Bíblia: “Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo”.
Em primeiro lugar, Maria estava grávida e fez um enorme sacrifício para subir as montanhas e visitar a sua prima, porque ela necessitava de sua ajuda: vai para servir, fazer com que o seu amor se transforme em gesto concreto. É a doação total para ir ao encontro de quem precisa, não importando o sacrifício necessário. O final do texto ainda diz que Maria ficou na casa de Isabel por mais três meses, subentendendo-se que ela só voltou para casa quando João Batista nasceu. E desceu todo o caminho montanhoso a pé, estando em fase mais avançada de gravidez.
Em segundo lugar, a visita de Maria trouxe uma transformação total à família. João Batista pulou no ventre de Isabel e ela ficou cheia do Espírito Santo: ela recebeu a presença de Deus na sua vida, por causa da visita de Maria. É um milagre que deve ser atribuído a Maria, ou a Deus que estava em seu ventre: a manifestação clara da presença de Deus. Por outro lado, vemos Isabel que, ao ver sua prima, exalta imediatamente as suas virtudes de mãe do seu Senhor. E este encontro termina com um cântico de exaltação ao amor de Deus.
Estes dois fatos representam perfeitamente a dinâmica vicentina. Nós saímos de nossa casa, subimos as montanhas, entramos na casa do assistido para escutar as suas necessidades: (do)ação nossa. Ao entrarmos na casa do assistido, ele (ou ela) se transforma e recebe o Espírito Santo: (do)ação de Deus. Ao perceber o Espírito Santo, o assistido nos faz sentir também transformados: (do)ação do assistido. Esta mística faz com que o vicentino repetidamente realize o plano de Deus no mundo. Sem querer dizer alguma heresia, acho que Maria era vicentina...