A Quaresma chegou e, junto dela, a Campanha da Fraternidade. Neste ano, a reflexão será voltada para a questão da pobreza. O tema “FRATERNIDADE E FOME”, com o lema “DAI-LHE VÓS MESMO DE COMER”, baseados na passagem bíblica extraída do Evangelista Mateus, no capítulo 14, versículo 16, convoca todos a considerar a fome como referência para a reflexão e propósito de conversão. Este será o assunto que norteará a nossa reflexão de hoje.
Existem mais de 33 milhões de pessoas em situação de fome no Brasil. Estes dados são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. O tema é tão necessário e urgente que pela terceira vez, ele é abordado. O objetivo é fomentar ações, em todos os níveis, para minimizarem os impactos desta realidade da vida do povo brasileiro. O lançamento aconteceu no último dia 22 de fevereiro, na Quarta-feira de Cinzas, na sede da CNBB, em Brasília (DF). A principal intenção da Igreja católica é propor aos fiéis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano conforme pede o Papa Francisco.
A primeira Campanha da Fraternidade promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aconteceu no ano de 1964 e esta é a de número 60. Na Quaresma, além da oração, jejum e caridade, a igreja propõe um tema específico e sempre atual para a reflexão dos fiéis. A Campanha, como expressão de comunhão, conversão e partilha, desperta o espírito cristão e comunitário na busca do bem comum; educa para a vida em fraternidade e renova a consciência da responsabilidade de todos pela ação evangelizadora, em vista de uma sociedade de irmãos.
Neste departamento de ajudar os menos favorecidos, os vicentinos tiram de letra. Sob a inspiração de São Vicente de Paulo - um padre que preferiu cuidar de uma paróquia bem pobrezinha no interior da França em vez de ser capelão de uma família da nobreza; um estudante de Direito, Frederico Ozanam, juntamente com seus companheiros fundou a SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO. Trata-se de um movimento de católicos que reúnem em Conferências para rezarem, dialogar e traçar metas para ajudarem os Pobres. Esta organização que está presente no mundo inteiro, com um maior número no Brasil, tem desenvolvido vários projetos de combate à fome, ultrapassando o simples gesto de entregar a cesta básica, mas embarcando na necessidade dos socorridos. Em Bom Sucesso, o Asilo São Vicente de Paulo desenvolve um trabalho lindíssimo carregado de muito cuidado e carinho com os idosos, isto, contando também com inúmeras ajudas externas, trata-se dos assistidos, famílias cuidadas pelas conferências. Se todos se empenharem na causa, o tema da Campanha da Fraternidade ficaria obsoleto. Mas, infelizmente, a ganância humana tem proporcionado uma desigualdade social, principalmente por parte de políticos corruptos que só olham seu próprio interesse. Políticas públicas precisam acontecer para estudar meios de auxiliar os mais necessitados. O Brasil tem se destacado neste quesito e isto é muito triste. O nosso país é rico, mas existem pessoas que não tem o que comer. Talvez seja bom levar em consideração que alguns parecem gostar do seu estado de pobreza, quando recusam trabalhar, estudar ou mesmo evoluir enquanto adoram viver às custas das ajudas alheias. Neste ponto que os governantes e legisladores poderiam atuar de maneira mais intensa ao propor meios de resolver os problemas na essência. Mais uma vez cito os vicentinos que fazem questão de sentar no sofá da sala do ajudado para sondar como está a vida naquela casa. A ideia é exatamente verificar o motivo pelo qual está faltando alguma coisa ali. Muitas vezes eles estão precisando é de uma auxilio jurídico, médico, psicológico ou mesmo um bate-papo para a elevação da autoestima. Uma das máximas da SSVP é que a cesta básica é apenas uma desculpa para visitar o pobre.
Voltando à Campanha da Fraternidade, a CNBB determina que a coleta das missas do Domingo de Ramos, no dia 02 de abril, que abre a Semana Santa e fecha os quarenta dias da quaresma, tenha um único objetivo, atuar nos projetos sociais e todo o território brasileiro. Trata-se da Coleta Nacional da Solidariedade. De todo o valor arrecadado, 40% vai ao Fundo Nacional de Solidariedade e os 60% restante permanece nas dioceses para atender a projetos locais. Também a Sociedade de São Vicente de Paulo tem esta prática por duas vezes no ano. A primeira acontece no primeiro trimestre e a outra no segundo semestre. Os vicentinos fazem uma contribuição extra para ser utilizada nas conferências com os cuidados com os pobres do Brasil e do mundo. Recentemente uma boa quantia foi enviada à uma associação solidária da Ucrânia para auxiliar as pessoas que estão se vitimando por causa da guerra. O próprio Jesus disse que “pobres sempre tereis convosco” (Jo. 12,8). O espírito solidário precisa continuar crescendo nas pessoas. Faz-se necessário abrir os olhos e sondar se estes necessitados não estão na sua rua, no seu bairro, na sua cidade, no seu estado, no seu país, enfim, no mundo inteiro. Em algum lugar terá alguém precisando de algum tipo de ajuda. São Tiago, nas suas cartas, já dizia que “a fé sem obras é morta” (Tiago, 2,14-17). Não basta apenas rezar, ir à igreja e não fazer caridade.
Encerrando e direcionando-se à Quaresma 2023, atentemos ao que o Papa Francisco disse: “Embora os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares habituais, transcorrendo uma vida quotidiana frequentemente repetitiva e por vezes enfadonha, na quaresma somos convidados a subir a um alto monte junto com Jesus para viver com o povo santo de Deus uma particular experiência de ascese”. Aproximemo-nos dos ideais cristãos e vivamos uma vida carregada de solidariedade com o objetivo de eliminar a fome e concomitantemente garantir a nossa salvação.
Confrade Elias Daniel de Oliveira, coordenador da Ecafo do Cm Formiga