Caridade: Amor em Movimento

“Uma Igreja sem Caridade não existe”

Maria Cristina dos Anjos*

No Brasil, a caridade tem um dia especial: 19 de julho. Apesar de pouco

conhecida, essa data virou lei em 1966, em plena ditadura militar, pelo então

presidente Humberto Castelo Branco. Para instituições como a Cáritas Brasileira,

um dia especial para a Caridade possibilita a todos/as refletir e resignificar o

sentido e valor da caridade nos dias atuais, bem como sensibilizar a sociedade

para a sua importância.

Na história da humanidade, a caridade sempre se fez presente sendo evidenciada

não apenas pelas igrejas, mas por diferentes grupos, famílias, pessoas que, de

inúmeras formas, se sentiam chamadas à prática do bem. Infelizmente, a caridade

também serviu, ao longo da história, como instrumento de manipulação, de

negação de direitos de pessoas e grupos.

Se buscarmos no dicionário o significado da palavra Caridade, encontraremos:

sentimento ou ação altruísta de ajuda a alguém sem buscar qualquer recompensa.

No cristianismo, o princípio da caridade é o amor ao próximo; no judaísmo a

caridade está relacionada com a justiça. Assim, Caridade é amor, é doação,

é justiça, é sair de si mesmo e ir ao encontro do outro, da outra. É amor em

Nos anos 90, a Cáritas Brasileira, desafiada pelo XI Congresso Latino Americano

de Caritas em Santo Domingos, Colômbia, fez um amplo diálogo em sua Rede

resultando em um documento intitulado “Mística e metodologia da Caridade

Libertadora”. Na compreensão da instituição era necessário refletir sobre a

caridade, enfocando, sobretudo, o seu aspecto libertador, enquanto exigência de

uma nova evangelização.

Numa releitura de metodologias que orientam a vivência da caridade cristã

(assistencial, promocional, libertadora), foi possível afirmar, a partir desse estudo,

que vivenciar a metodologia da caridade libertadora não significava excluir ou

contrapor às práticas assistenciais ou promocionais. Estas podem e devem ser

parte do processo libertador. A caridade libertadora busca ter em conta a opção

pela causa e prática dos empobrecidos, a compreensão e atuação a partir de uma

leitura crítica da realidade; opta pela ação coletiva; pelo protagonismo e defesa de

direitos das pessoas excluídas.

Hoje, o termo solidariedade é mais utilizado pela sociedade. É percebido como

um conceito mais abrangente, mas, que em sua origem, está a caridade. A

Caridade libertadora é solidária, é comprometida, é transformadora, é exigente.

Exige estarmos comprometidos e comprometidas com ações que garantam o

fortalecimento dos grupos e comunidades, da participação popular, em vistas

da construção de novas sociedades, pautadas num desenvolvimento solidário e

sustentável, que inclui todas as pessoas.

É preciso afirmar que a vivência da solidariedade se torna cada vez mais

desafiadora na sociedade atual. Uma sociedade que privilegia um modelo de

desenvolvimento onde o ter e não o ser está em primeiro lugar. Esse modelo

de sociedade exige de nós a retomada e afirmação de valores, onde o ser e a

vida estejam em primeiro lugar. Onde as novas gerações incorporem nas suas

dinâmicas de vida valores como partilha e solidariedade, evidenciando os mesmos

em suas práticas cotidianas.

Na Rede Cáritas e também em outras inúmeras organizações, a prática da

solidariedade tem sido assumida por inúmeros voluntários que colocam suas vidas

e energias a serviço de pessoas e comunidades, contribuindo na transformação

Nesse sentido, no Dia Nacional da Caridade, abraçamos todas as pessoas que

colocam suas vidas em favor das pessoas empobrecidas. Que o testemunho

de vida dos/as mesmos/as possam nos animar a todos/as a tomar parte nesse

grande mutirão de solidariedade, que nos faz sairmos de nós mesmos e ir ao

encontro do outro/a, colocando o amor em movimento.

*Socióloga, Diretora Executiva Nacional da Cáritas Brasileira.