Coordenador de Jovens do Conselho Metropolitano de Formiga alerta sobre o perigo da brincadeira virtual e afirma: “enquanto o jogo provoca morte, a SSVP promove a vida”
Menina de 15 anos crava faca no feito. Jovem coloca balas envenenadas em porta de escola infantil. Adolescente é encontrado mutilado. Todas estas afirmações parecem exageros de algum jornal sensacionalista, mas não são. Os casos citados aconteceram no Brasil no mês passado e têm em comum o jogo ‘Baleia Azul’. A ‘brincadeira’ começa oferecendo aos jovens pequenos desafios que vão aumentando gradualmente. A última etapa determina que os participantes comentam o suicídio.
O nome ‘Baleia Azul’ está relacionado ao primeiro desafio ao qual os participantes são submetidos: desenhar uma baleia com gilete nos pulsos. O jogo é acessado por meio de sites de relacionamento, a exemplo do Facebook.
Diante de situações de jogadores que têm perdido a vida, é muito comum aparecer comentários do gênero: “foi falta de côro dos pais” ou ainda “esses jovens não têm mais o que fazer da vida”. Mas há um equívoco nestas frases. Embora os estudos relacionados sejam muito recentes, o que se observa no perfil de quem entra para o ‘Baleia Azul’ é que são pessoas com quadros de depressão, baixa autoestima, problemas de relacionamento com pais, que sofreram perdas e não possuem amigos. E o jogo não representa para elas uma brincadeira; e sim, o incentivo que desejam encontrar para cometerem o suicídio. É uma questão seríssima, comprovada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no aumento de jovens que tiraram a vida nos últimos anos – cerca de 26%.
O coordenador de Jovens do Conselho Metropolitano de Formiga, confrade Devanir Duque, pede que os vicentinos fiquem atentos aos assistidos e aos próprios jovens que frequentam as Conferências. Caso detectem algum sintoma (leia quadro a seguir), os confrades e consócias devem incentivar com que eles procurem ajuda médica e psicológica.
Às pessoas que estão com ideação (pensamento) suicida, ele dá um encorajamento. “Nós somos o presente e futuro desta nação, e o jogo só nos permite ser o presente. Então, vamos viver a vida que Deus nos deu. Eu sei que existem problemas e que, às vezes, tudo se torna muito difícil. Mas tudo passa, inclusive o sofrimento. Não desista da vida”.
Devanir ainda aconselha a participação desses jovens nas Conferências Vicentinas. “O contato com outros jovens que são felizes dentro da Igreja e por servirem aos Pobres, aliado ao tratamento médico e psicológico, pode ser muito importante para o bem-estar de quem está sofrendo com depressão ou situações parecidas”. Complementa. “Nosso trabalho, na condição de vicentinos, é contrário ao jogo Baleia Azul. Em vez de promover mortes, nós promovemos a vida. E valorizamos todos os jovens, porque sabemos da força que eles têm e o quão capazes são”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preparou uma cartilha para que professores e educadores possam identificar comportamentos indicativos de risco de suicídio entre jovens e adolescentes. No documento, a OMS esclarece que ter pensamentos suicidas ocasionalmente não é algo anormal nesta idade, já que é parte do processo de desenvolvimento da fase, quando adolescentes lidam com questões existenciais e tentam descobrir o significado da morte. "Pensamentos suicidas se tornam anormais quando a realização deles parece ser a única solução dos problemas para as crianças e os adolescentes. Temos então um sério risco de tentativa de suicídio ou de suicídio", explica o órgão.
As pesquisas também demonstram que quando há um caso de suicídio dentro de uma comunidade, como em uma escola, há mais chances de que novos casos aconteçam na sequência, pois o adolescente é mais sugestionável que o adulto. É o que se chama de "suicídio contagioso", algo muitas vezes não tratado com a devida atenção. "As escolas muitas vezes empurram para baixo do tapete o caso. Mas o correto é chamar os estudantes e conversar. Fazer uma triagem nos que podem apresentar mais riscos e até chamar psicólogos para conversar", diz Sheila Caetano, professora da Unifesp.
A OMS alerta que qualquer mudança súbita ou dramática que afete o desempenho, a capacidade de prestar atenção ou o comportamento de crianças e adolescentes deve ser considerada seriamente. Como:
• falta de interesse nas atividades habituais
• declínio geral nas notas
• diminuição no esforço/interesse
• má conduta na sala de aula
• faltas não explicadas e/ou repetidas, ficar “matando aula”;
• consumo excessivo de cigarros (tabaco) ou de bebida alcoólica, ou abuso de drogas (incluindo maconha)
• incidentes envolvendo a polícia e um estudante violento