Leitura Espiritual
Semana de 29 de maio de 2017 (referência: leituras do domingo 4 de junho)
Pentecostes - Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Mt 28,16-20
Cada visita vicentina é um novo Pentecostes em que tanto o visitante, quanto o visitado sopram sobre o outro, a sabedoria do Espírito Santo.
A solenidade descrita nas leituras de hoje, o Pentecostes, mudou a vida da Igreja. Os apóstolos haviam escutado de Jesus o mandato de pregar o Evangelho em todos os lugares da terra. Eles haviam compreendido a mensagem da ressurreição de Cristo, mas ainda não tinham compreendido na totalidade o alcance da missão que Jesus tinha dado a eles. Por outro lado, os apóstolos eram judeus e praticaram o judaísmo durante toda a vida.
De onde viria a competência para evangelizar até os confins da terra, em idiomas diferentes, a culturas diferentes, a pessoas de religiões e seitas diferentes? Como se faria isto se os apóstolos eram simples pescadores? A competência veio como um vento. Por um lado, ela veio como um vento assustador: “De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam” (At 2,2). Por outro lado, ela veio como um sopro de paz. Ao aparecer aos apóstolos depois de ressuscitado, Jesus lhes diz: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos'” (Jo 20,23).
Pronto, depois deste vento, tudo estava preparado para enviar os apóstolos em missão. Primeiro, eles haviam passado dois ou três anos ouvindo e vendo Jesus fazer milagres. Depois, confirmaram a Sua divindade pela morte e ressurreição. Finalmente, o Espírito Santo havia sido dado a eles, para prover-lhes a capacidade. Eles já podiam ir até os confins da terra e evangelizar, em todas as línguas, a todas as culturas. Como sempre, Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.
Também nós, como vicentinos, somos chamados a evangelizar. A grande diferença talvez entre nós vicentinos e outros evangelizadores é que aprendemos pela Palavra e pela oração e praticamos pela experiência da intimidade com Deus na pessoa do Pobre. Muitos são excelentes evangelizadores ou elaboradores de políticas públicas, mas não puderam ser tocados pela “língua de fogo” que é o encontro com o Pobre. Nós, sim, vicentinos, fomos tocados e já não podemos ficar alheios ao chamado de Cristo para que evangelizemos até os confins da terra.
Tomemos o exemplo de Ozanam. Antes das Conferências de Caridade (como são hoje as nossas Conferências Vicentinas), existiram as Conferencias de História. Ozanam e seus jovens amigos formaram estas conferências para defender a Igreja e aprender (através da discussão) como trazer liberdade, igualdade e fraternidade à França do início do século dezenove.
Ozanam já tinha a vocação para a evangelização e a utilizava de forma corajosa em um ambiente muito contrário à Igreja. O contato com o Pobre, através da visita, obra-resposta à uma provocação de um sansimoniano (contrário à Igreja) completou a evangelização iniciada antes. E completou de forma divina e humana: é como se o Pobre fosse a competência que faltava a Ozanam e seus amigos para a evangelização, ou seja, a língua de fogo, o sopro do Senhor, ou a ventania que mudaria a vida deles. Então, a visita é o encontro humano com a mútua evangelização divina: tanto nós, os visitantes, sopramos o Espírito Santo sobre os Pobres, quanto os visitados sopram sobre nós o mesmo Espírito. Só mesmo uma obra divina como a SSVP pode explicar e realizar esta mística. Cada visita é, portanto, um novo Pentecostes.
A partir da fundação da SSVP, Ozanam passou a utilizar tudo o que sabia para evangelizar: foi um brilhante professor da Sorbonne, para ter a credibilidade para defender a justiça social. Propagou como poucos o Evangelho, através da política, da literatura, da sociologia, da autoria de artigos em revistas e jornais. Foi um precursor muito importante da Rerum Novarum, encíclica escrita 50 anos depois da morte de Ozanam por Leão XIII e que se tornou o início formal da Doutrina Social da Igreja como conhecemos hoje.
Nosso carisma vicentino não se limita à evangelização através da visita; pelo contrário, esta mesma visita deve ser o alimento, o fogo de sabedoria, que nos ilumina e empurra a evangelizar em todos os confins da terra.