Leitura Espiritual
Semana de 21 de agosto (referência: leituras do domingo 27 de agosto)
21º Domingo do Tempo Comum - Leituras: Rm 11,33-36; Mt 16,13-20
“E vós, quem dizeis que eu sou?”; “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.”
Reflexão vicentina
As leituras desta semana tratam de um assunto complicado, mas que se simplifica, se nos colocamos em uma posição de humildade: o conhecimento de Deus.
Na sua Carta aos Romanos, São Paulo nos diz: “Como são inescrutáveis os seus juízos (de Deus) e impenetráveis os seus caminhos! De fato, quem conheceu o pensamento do Senhor?” Já no Evangelho de São Mateus, Jesus provoca os apóstolos perguntando “E vós, quem dizeis que eu sou?” São Pedro rapidamente responde “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.” E Jesus esclarece: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.”
Ao longo da história da Igreja, muitos filósofos e teólogos estudaram o tema da possibilidade humana de conhecer a Deus e, ao mesmo tempo, a relação do homem com Ele. Este assunto foi estudado, em particular, pelo que chamamos de teologia negativa ou apofática. Apesar deste nome, a teologia negativa não tem nada de mal; de forma simplificada, ela diz que é impossível conhecer a Deus, porque Deus está acima de qualquer descrição, de qualquer coisa; portanto, somente é possível descrever a Deus pelo que Ele não é.
Em particular, São João da Cruz, olhava para este tema, segundo um aspecto místico, ou seja, do mistério de Deus. Em seu livro clássico “A Noite Escura” ele mostra que é Deus que opera a purificação dos sentidos e do espírito, para que possamos compreendê-Lo. E acrescenta que é através da “noite escura” que podemos fazer desaparecer da alma todas as imperfeições, dando a nós a perfeição para um entendimento humano, mas também divino, de Deus. E isso se dá através do vazio, do escuro, para que a luz da alma possa receber a luz divina que supera a luz natural e que nos permite compreender a Deus. É por isso que, muitas vezes, necessitamos do sofrimento ou do sentimento de vazio, para poder conhecer a Deus que está e sempre esteve dentro de nós. Neste aspecto, como São João da Cruz e Madre Teresa de Calcutá indicaram, a “noite escura” é um presente de Deus para que Ele nos permita chegar mais perto Dele. Parece complicado, mas é extremamente belo.
Para nós, vicentinos, esta reflexão permite entender melhor por que São Vicente definiu a humildade, como uma de suas cinco virtudes: a humildade nos permite colocar todas as coisas nas mãos de Deus, começando pelo nosso próprio conhecimento. Na mesma linha de raciocínio, a humildade nos possibilita compreender o que Vicente queria dizer com o fato de que os “Pobres são nossos Mestres”. Simplesmente, porque Eles, os Pobres, nos permitem conhecer a Deus.
E como isto acontece? Depende unicamente de nós. Se nós olhamos o assistido como mais uma pessoa que ajudamos, não podemos entrar no “vazio”, ou seja, não daremos a oportunidade ao Pai de revelar-se como fez com São Pedro no Evangelho desta semana. Por outro lado, se olhamos para o assistido como o próprio Cristo e consideramos a visita como uma oportunidade única para que a luz de nossa alma possa ser substituída pela luz divina, tudo muda. A visita é, assim como a mística da “noite escura”, um presente de Deus, para que possamos perceber a Sua presença, mesmo que nossa inteligência não seja capaz de conhece-Lo de forma completa.
Rezemos antes de cada visita ao assistido, para que Deus a transforme neste presente místico e belo!