Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, João Batista viu Jesus, que vinha ao seu encontro, e exclamou:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
Era d’Ele que eu dizia: “Depois de mim virá um homem, que passou à minha frente, porque existia antes de mim”.
Eu não O conhecia, mas para Ele Se manifestar a Israel é que eu vim batizar em água”.
João deu mais este testemunho: “Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele.
Eu não O conhecia, mas quem me enviou a batizar em água é que me disse:
“Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e repousar é que batiza no Espírito Santo”.
Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”.
Reflexão vicentina
As leituras deste domingo nos falam sobre a nossa vocação. No Livro de Isaías, o Servo do Senhor é apresentado como quem Deus elegeu desde o seio materno, para que fosse um sinal no mundo e levasse aos povos de toda a terra a Boa Nova. Paulo, na Carta aos Coríntios nos lembra que fomos escolhidos por Deus e “chamados à santidade”. No Evangelho, o próprio Cristo se apresenta como o “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” que é enviado com a missão do Pai, para libertar os homens do “pecado” que oprime e não deixa ter acesso à vida plena.
A palavra “vocação” vem do verbo do latim “vocare”, ou seja, “chamar”. O processo da vocação cristã ou vicentina se dá da seguinte forma: Deus nos chama, nós respondemos a Ele e O seguimos. Portanto, inicialmente, a vocação é a iniciativa de Deus em chamar-nos. Mas as outras duas ações (que têm a ver conosco) são tão importantes quanto a primeira: nós respondemos ao chamado e O seguimos. Se não houver a resposta, a vocação se torna um “chamado no escuro” e se não houver o seguimento, a vocação se torna apenas um desejo.
Às vezes, temos medo de seguir o chamado de Deus, ou porque não nos achamos capazes, ou porque “não temos tempo” ou porque não sabemos bem aonde ele nos vai levar. É muito importante ter em mente que Deus não escolhe os preparados, mas prepara os escolhidos, como indica o Livro de Isaías. ““Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra.”
Portanto, quem responde ao chamado do Senhor, primeiro escuta, depois confia, depois muda de vida e, finalmente, já não pertence a si mesmo, mas passa a ser um só Espírito com Ele. É uma sequência belíssima!
Para nós que somos vicentinos, acontece um processo muito parecido. Primeiro, Deus tem a iniciativa de chamar-nos; pode ser por um amigo, por um aviso na Paróquia, por uma pessoa pobre que necessita de nós. Às vezes não compreendemos bem o chamado, mas não importa, respondemos assim mesmo e vamos à Conferência e fazemos a visita ao assistido. Depois, nós mudamos de vida: passamos a viver a vida da Conferência e do encontro com o Pobre. E aí, passamos à transformação mística: ao entrarmos na casa do Pobre, tornamo-nos um só Espírito com o Cristo que aí habita.
A partir daí, já não somos os mesmos, já não pertencemos a nós mesmos. Toda a nossa vida passa a ser movida pela chama da descoberta de Jesus no outro, naquele ou naquela que necessita de nosso serviço.
E o “pertencimento a Deus” não se traduz somente na visita vicentina, mas na transformação total de nosso ser. Tomamos consciência de que nosso corpo é efetivamente o Templo do Espírito Santo e já não queremos pecar; queremos utilizar o corpo para servir mais, sem o limite do cansaço para ser “um com o Cristo”. Nossos dons passam a ser utilizados para o serviço direto aos Pobres e para a luta pela justiça social: o que aprendemos na oração e na mística da visita, passamos a traduzir em nosso trabalho, nossa intelectualidade, nossa vida social, no sentido de criar um mundo mais justo ao nosso redor.
Este é o milagre da vocação vicentina que Frederico Ozanam descobriu e nos deu como herança. De um chamamento a uma simples visita, passamos a ser, cada um a seu modo, mensageiros vivos do Evangelho da justiça e do amor.