“Portanto, não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”

Semana de 13 de novembro (referência: leituras do domingo 19 de novembro)

33º Domingo   do Tempo Comum - Leituras: 1Ts 5,1-6; Mt 25,14-30

Reflexão vicentina

A Parábola dos Talentos (do Evangelho desta semana) tem muito a ver com a nossa vida vicentina.  Jesus nos convida a verificar os talentos que temos e a saber utilizá-los, multiplicando-os.

Em primeiro lugar, o que poderiam ser nossos talentos?  Podemos definir talentos como tudo aquilo de bom que possuímos e que foi dado por Deus ou que foi conquistado por nossa competência (também fruto da bondade de Deus).  É verdade que as virtudes como a fé, a esperança e a caridade são talentos dados a nós por Deus e que fazem muita diferença na nossa vida e na vida das pessoas que Deus nos confia.  Viver estes talentos nos faz ficar próximos de Deus e nos permite estar “sempre atentos” para a preparação da Sua vinda, ou do momento em que O contemplaremos face-a-face, na nossa morte.

Mas há outros talentos que Deus nos dá e que muitas vezes preferimos “enterrar”: nossa inteligência, nossa beleza, nossos bens materiais, nossa capacidade de falar, de escrever, de agir.  Quantas vezes Deus nos mostra que temos tudo isso e preferimos pensar que somos piores que os outros ou ficamos nos queixando sobre o porquê de os outros terem mais do que nós!  Não seria muito melhor para nós e para os outros que busquemos trabalhar ao limite, ou maximizar, o que temos?  Preferimos nos colocar em uma posição de “coitados” do que assumir os nossos talentos e seguir em frente, construindo coisas, realizando boas obras, propagando o Evangelho.  Deus não nos deu o mundo para que o recebamos e passemos pela vida sem melhorá-lo; Ele nos criou para que fôssemos como Ele, à sua imagem, construindo como Ele construiu, criando como Ele criou.  E isso podemos todos fazer, sem distinção de pessoas.

A cada um, Deus deu um conjunto de talentos, distinto e útil, para construir a história da salvação.  Não há uma só pessoa sobre a terra que não tenha uma missão e um valor a adicionar à obra de Deus.  Se fosse assim, a sua obra não seria perfeita e não seríamos criados à sua imagem.  Cabe à nós, identificar estes talentos e colocá-los a serviço.

Na Carta aos Tessalonicenses desta semana, Paulo nos pede que “não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios” (vers. 6).  Em primeiro lugar, que não adormeçamos, mas sempre estejamos atentos e dispostos a trabalhar pela obra da criação e da salvação.  Em segundo lugar, que o façamos sóbrios, isto é, com sabedoria.  Não é somente o “que” fazer, mas o “como” fazer: toda a decisão, toda a ação e todo o julgamento que fizermos, devemos fazer de acordo com a vontade de Deus (com os talentos que Ele nos deu de graça).  

Jesus nos dá uma indicação sobre o “como” fazer nos dois primeiros servos do Evangelho: os dois arriscaram os talentos que tinham e trabalharam muito para devolver em dobro.  Poderiam ter dormido sobre os seus talentos, mas preferiram arriscar.  E, como estavam arriscando, para devolver ao Senhor, tinham a fé de que Ele daria a eles a competência.  Se tudo desse errado, eles sabiam que o Senhor os ia perdoar, porque mediria não o resultado, mas a sua intenção de fazer o melhor.

O que seria dos vicentinos se São Vicente não tivesse arriscado criar a Congregação da Missão, ou as Filhas da Caridade, ou as Damas da Caridade?  O que seria de nós se Ozanam tivesse decidido ficar nas Conferências de História e não tivesse decidido criar as Conferências da Caridade?  O que seria de sua história de propagador do Evangelho, se não tivesse arriscado criar o jornal L´Ère Nouvelle, ou se não tivesse se arriscado a ser candidato a deputado, ou se não tivesse escrito as cartas defendendo a Igreja e a Justiça?

Nada do que fazemos pela obra de Deus ou do que arriscamos pelos Pobres passa sem ser percebido por Ele.  Deus sempre estará lá, dentro de nós, guiando nossos passos, provendo talentos e consolando se algo não der certo ao arriscarmos fazer melhor.