Na leitura dos Atos dos Apóstolos (At 2,14a.36-41) vemos um Pedro Apóstolo muito diferente do que era antes da ressurreição: seguro de suas palavras, ele fala alto e desafia o povo que havia crucificado Jesus. Às vezes me pergunto o que pode fazer com que um pescador com muito poucos estudos se transforme em um líder forte, competente e sem medo.
A leitura nos dá a indicação da resposta: a ressurreição de Cristo e Pentecostes. Pedro se transformou quando viu Cristo ressuscitado em pessoa, comendo com os seus amigos apóstolos. Certamente, Cristo tinha uma forma diferente daquela antes de sua morte, porque ele podia entrar (pela porta) em um recinto (onde estavam os apóstolos) sem que a porta se abrisse, ou podia não ser percebido de imediato, como aconteceu no encontro com os discípulos de Emaús. Mas era o Cristo em corpo e alma, reconhecido no comer o peixe ou no partir o pão. E os apóstolos tiveram a honra de vê-Lo, senti-Lo e ouvi-Lo ressuscitado e em pessoa. Tudo mudou para eles.
Em Pentecostes, Jesus deu aos apóstolos o Espírito Santo: o Espírito de amor, de força e de sabedoria. Eles puderam sentir as “línguas de fogo”. Tudo mudou novamente: passaram a ter eles mesmos a sabedoria do Espírito. A partir deste momento, tudo o que faziam (unção dos sacramentos, milagres, pregações), tudo passou a ser obra do Espírito.
No Evangelho, Jesus conta a parábola do pastor e das ovelhas. Novamente está claro que as ovelhas que veem o pastor, reconhecem, pela voz, que ele e só ele é o seu guia. Uma vez que o reconhecem, tudo muda para elas que o seguem sem medo; ele vai adiante delas. O pastor entra pela porta principal para ver as suas ovelhas, não necessita de subterfúgios, de enganar nenhuma ovelha. Afinal, o pastor conhece cada ovelha pelo nome, com suas debilidades e suas fortalezas, com suas tristezas e suas alegrias, conhece todas as suas necessidades.
Certa vez, perguntaram a um sacerdote de uma congregação, porque é tão difícil obter vocações religiosas. Ele respondeu fazendo uma comparação a uma manada de animais que seguem uma caça. Os que conseguem ver a caça e reconhece-la como caça seguem correndo atrás dela; não desistem. Já os animais que estão mais atrás e que não conseguem ver a caça, mas somente acompanham a corrida, pouco a pouco vão se dispersando e se afastam da caçada.
Assim somos nós os vicentinos. Quando conseguimos ver de fato e de verdade o Cristo no Pobre que assistimos, enchemo-nos de alegria. Sabemos que a recompensa pelo serviço vem de uma proximidade com Deus e não de um ato filantrópico simplesmente. Quando somos capazes de ver o Cristo ressuscitado na casa do Pobre, nos convertemos totalmente e não queremos deixar de correr, como atletas de Cristo, a serviço de nossas ovelhas: não servimos em nosso nome, mas em nome de Cristo.
Da mesma forma, às vezes não damos a devida atenção à oração que fazemos ao Espírito Santo ao início de nossas reuniões de Conferencia Vicentina. Se a fizermos com a certeza de que o Espírito de Deus pode realmente transformar-nos, conseguimos nos encher plenamente de nova força e sabedoria. É um Pentecostes que acontece a cada vez que pedimos ao Espírito para que guie a nossa reunião, a nossa visita, o nosso trabalho, a nossa família e os nossos projetos. O Espírito Santo nos faz capazes de reconhecer o Cristo em tudo o que fazemos e assim, passar a ter vida e vida em plenitude.