Reflexão Vicentina
As leituras desta semana são uma aula sobre como devemos nos portar dentro de nossas ramas da Família Vicentina, em particular na SSVP. Em geral, fazemos muitas reflexões sobre nossa ação junto aos Pobres, mas nos esquecemos de pensar sobre como nos relacionamos com os nossos irmãos no carisma vicentino.
Antes de mais nada, é necessário lembrar como era o ambiente da primeira conferência vicentina. Antes de servir os Pobres, Ozanam e os demais fundadores eram amigos. Sua amizade surgiu na universidade, como estudantes e, especialmente, compartilhando a sua fé. Lembremo-nos de que Ozanam veio de Lion para Paris para estudar. Paris era uma cidade perigosa, especialmente, porque era um ambiente pouca fé e pouca moral. Ozanam e seus amigos formaram um grupo de defesa da Igreja – as Conferências de História – como se fosse um “ambiente protegido”, onde eles pudessem compartilhar a sua fé. A vinda da caridade para estas conferências, foi posterior e completou a fé com as obras, além de consolidar a amizade.
Vejamos uma mensagem do Evangelho desta semana extremamente importante para o nosso relacionamento de amigos na SSVP. Jesus diz: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, à sós contigo!” (vers. 15).
Quantas vezes julgamos o nosso irmão ou irmã e preferimos contar aos outros, sem dizer a ele ou ela diretamente sobre nosso julgamento! Ao falarmos aos outros sobre um irmão ou irmã que “não nos cai bem” ou nos ofendeu, estamos gerando dois problemas: primeiro, aumentamos nosso rancor com relação ao irmão ou irmã; e, segundo, construímos um ambiente ruim em nossa Conferência ou Conselho. Jesus nos diz mais adiante na leitura: “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (vers. 18). Esta mensagem não é só para os apóstolos do tempo de Jesus e para os padres ou religiosos do nosso tempo; é para nós. Se ligamos desavenças no meio da SSVP ou em nossa família ou em nosso trabalho, ou em nossa paróquia, estamos ligando desavenças no céu; se desligarmos a possibilidade de uma reconciliação nestes lugares, a desligaremos no céu.
Por quê tentamos evitar falar diretamente e “em particular” ao nosso irmão ou irmã com quem não temos um bom relacionamento? Pode ser por timidez, pode ser por arrogância nossa, ou pode ser porque “falar mal” dele ou dela seja mais fácil do que falar a ele ou ela. É necessário romper estas barreiras (da timidez ou da arrogância) e ser maiores do que nós mesmos, agir como Ozanam agiria e ir ao encontro do irmão ou da irmã, especialmente, quando ele ou ela não nos cai bem!
Qual a consequência de não falar diretamente e “em particular” ao nosso irmão? Primeiro, perdemos uma enorme chance de fazer um grande amigo ou amiga. Quantas vezes, em uma conversa com alguém de quem não gostamos, passamos a conhecer o seu “outro lado”, que passamos a gostar e esse alguém se torna muito especial para nós! Segundo, perdemos a oportunidade de nos “ligarmos” mais a Deus no céu. Quantas vezes, com uma conversa particular, fazemos um bem enorme a alguém que necessita tanto de nossa amizade e, sobretudo, de nossa caridade vicentina.
Não adianta sermos especialistas na Regra Vicentina, se não tivermos o amor a quem compartilha conosco a nossa vocação de santificação pelo serviço ao Pobre. São Paulo define bem este ponto: “o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (vers. 10).