Sempre vivemos um momento significativo da vocação vicentina, ao participarmos de uma Festa Regulamentar, quando temos a oportunidade de recordar a vida, a história e a espiritualidade de São Vicente de Paulo e, ao mesmo tempo, compararmos a nossa prática de servir aos Pobres com o modelo de santidade que nos inspira.
Assim, com o objetivo de refletir sobre a importância e a influência de São Vicente de Paulo em nossa vivência vicentina, vale a pena recorrer a uma preciosa Catequese do Papa Francisco, anunciada no dia 22 de junho de 2016 no Vaticano, pela qual o Santo Padre apresenta um belíssimo ensinamento por meio do Evangelho de Lucas, que narra o clamor do leproso pedindo a Jesus: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar“ (Lc 5, 12).
Inspirado no trecho bíblico mencionado, o Papa Francisco nos dá a valiosa instrução de como devemos dirigir os nossos pedidos a Jesus, afirmando: “A súplica do leproso mostra que quando nos apresentamos a Jesus não é necessário fazer longos discursos. Bastam poucas palavras, mas que sejam acompanhadas da plena confiança na sua onipotência e na sua bondade”. E ainda complementa: “Confiar-nos à vontade de Deus significa de fato confiar na sua infinita misericórdia”.
Nesse contexto, o Santo Padre utiliza a mesma passagem bíblica para ampliar suas orientações a respeito da maneira ideal de nos relacionarmos com os Pobres, porque ao ouvir o homem doente implorar a cura: “Jesus se enche de compaixão, estende a sua mão, toca nele, e diz: Eu quero, fica curado!” (Mc 1, 40-45).
O Sumo Pontífice nos leva a compreender que o encontro com o Pobre é o fator determinante e insubstituível para despertar em nós uma reação, seguida do desejo de nos mobilizarmos em benefício de quem sofre, ou revelar a frieza, acompanhada do descaso pela dor alheia, destacando: “Quantas vezes nós encontramos um pobre que vem ao nosso encontro! Podemos também ser generosos, podemos ter compaixão, porém muitas vezes não os tocamos. Nós oferecemos a eles a moeda, a colocamos ali, mas evitamos tocar a mão. E esquecemos que aquilo é o corpo de Cristo! Jesus nos ensina a não ter medo de tocar o pobre e excluído, porque Ele está neles. Tocar o pobre pode purificar-nos da hipocrisia e nos tornar inquietos pela sua condição. Tocas os excluídos. O cristão não exclui ninguém, dá lugar a todos. Deixa vir todos”.
Desse modo, o Papa Francisco comprova por meio da atitude de Jesus, que qualquer ação capaz de mudar para melhor a situação dos marginalizados nasce necessariamente do sentimento da compaixão, enaltecendo: “Esta disposição de Jesus mostra...: a graça que age em nós não busca o sensacionalismo. Ela se move com discrição e sem clamor. Para medicar as nossas feridas e nos curar no caminho da santidade essa trabalha modelando pacientemente o nosso coração sobre o Coração do Senhor, de forma a assumir-lhes sempre mais os pensamentos e os sentimentos”.
Diante de tantas lições, cabe um questionamento: você tem medo de servir aos Pobres?
No entanto, se pretendemos responder tal indagação usando de total sinceridade é indispensável não disfarçar o medo com as condições que normalmente impomos para socorrer os Pobres, como: estabelecer critérios rígidos nas sindicâncias; regular em demasia os auxílios materiais; evitar a ousadia na busca da promoção social e espiritual dos mais necessitados, se acomodando nas práticas rotineiras; e cortar a ajuda às famílias por julgamentos equivocados ou motivos fúteis.
Portanto, teremos muitas razões para festejar o chamamento de Deus com o intuito de seguirmos o exemplo de São Vicente de Paulo em nossas vidas, se de fato servirmos aos Pobres sem medo dos desafios e exigências impostos pela vocação vicentina.
Peçamos a Nossa Senhora e Mãe dos Pobres que nos dê coragem e entusiasmo, essenciais para nunca temermos o encontro e o serviço com os excluídos.
Confrade João Marcos Andrietta